sábado, 31 de outubro de 2009

diissonâncias...será a letra da música poesia?!!

Sou refém de mim próprio,


cativo do meu optimismo.

Não consigo ser verdadeiramente infeliz

porque não fui feito para isso.

Há sempre algo com o qual estou bem,

mesmo quando me sinto mal com tudo o resto

e não sei nem qual é uma coisa nem as outras.

Sinto-me completamente incompleto

e tenho tudo o que fui querendo

e nada mais quero pois tenho tudo, incompletamente.

Fui feito para sofrer assim; baixinho,

com uma luz na alma,

de bem com todos, feliz por fora,

chorando quase sempre num sorriso.

Passou o meu tempo de ter direito a ser triste.

Fiz-me assim, escolhi-me alegre, optimista, solar

e ninguém me conhece doutra maneira...

nem eu...

ninguém me levaria a sério...

nem eu...

Não posso mudar, não seria capaz.

Estou preso de desconhecer a felicidade futura

hipotética...

e a infelicidade também.

E não quero mudar porque sou tão feliz assim; triste

e tão perdido assim; contente.

Fiquei morno, temperado, mediterrânico,

à sombra dum sol que não há

e à luz duma sombra que queria ser negra

mas não consegue!

Espero em vão que a minha chama gélida derreta,

que ferva a minha calota e o meu iceberg.

(metáforas de um sub-trópico cheio de fleuma)

Espero que o sono chegue e ele foge

mas até a insónia se recusa a durar muito.

Queria ser tudo o que nunca fui

e explodir numa espiral de éter e bílis,

mas pensei-me demasiado em equilíbrio

e esqueci-me entretanto de procurar a vida...

passou-me ao lado antes mesmo de começar;

já sei que não vai ser de tanto querer que seja;

já foi outra coisa mesmo que não tenha sido nada;

perdeu o valor embora seja o mais precioso bem.

Não quero a companhia de ninguém,

quero poder repudiar o consolo e o conselho:

basto-me porque aprendi a não depender,

mesmo quando não tenho nada para me dar.

E anulo-me quando finalmente atinjo a plenitude.

Deixo de ser eu para ser só eu...

Queria ser outro eu qualquer enquanto me adoro,

assim mesmo, a odiar-me, por não me deixar ser triste

e continuo assim, contente...

feliz mesmo...

sem que ninguém saiba...

nem eu.

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